Os distúrbios do sono estão
entre os distúrbios clínicos com maior impacto de saúde em nossa sociedade,
causando sérios prejuízos econômicos para suas populações (1).
Mello (2), o sono
é considerado como restaurador e o exercício está relacionado com diversas
alterações no padrão de sono, mas existem várias facetas sobre a influência do
exercício em relação ao sono, como a intensidade e a duração do exercício, o
intervalo entre o fim da realização do exercício e o início do sono, entre
outros, nos quais ainda carecem de maiores estudos.
Heinzelmann e Bagley (3),
em seus estudos eles submeteram alguns indivíduos a três sessões semanais de
exercício de uma hora, durante 18 meses. Ao final do estudo os participantes
relataram menor necessidade de sono, assim como um sono mais relaxado e
restaurador, demonstrando a influência da atividade física no sono destas
pessoas.
Vuori at all. (4) realizaram
um levantamento epidemiológico em que foram entrevistadas 1600 pessoas, com
idade variando entre 36 e 50 anos, com o objetivo de investigar a influência da
atividade física no sono. Neste estudo os autores também relataram que fatores
sociais, psicológicos, condições do local em que dormem, o estilo de vida e as
condições de vida do indivíduo influenciam diretamente na qualidade de sono e
no desempenho físico. Um outro importante achado é que os exercícios: moderado
e vigoroso, podem melhorar a qualidade de sono, mas os exercícios vigorosos
devem ser evitados tarde da noite.
Segundo
Tynjala (5), uma percepção ruim de qualidade de sono está associada
com uma baixa descrição de saúde; baixa capacidade física; e inúmeros sintomas
psicossomáticos. Dificuldades para dormir e uma qualidade de sono ruim podem
também ser sinais de fatores de estresse, e um estilo de vida inadequado. Para
este mesmo autor, a percepção de qualidade de sono é descrita em muitos estudos
como dificuldade em cair no sono; dificuldade em manter o sono; acordar muito
cedo pela manhã; quanto revigorada a pessoa sente depois do sono; e a própria
visão da pessoa sobre sua qualidade de sono. Há também evidências de que
qualidade de sono ruim está associada, entre outras coisas, com problemas em
relacionamentos sociais, dificuldade em lidar com problemas, distúrbios de sono
e estados psicológicos como: depressão, ansiedade, tensão e medo. O hábito de
fumar; ingerir bebidas alcoólicas; e bebidas contendo café ou cafeína
freqüentemente, podem diminuir a qualidade de sono; por outro lado, a prática
de atividade física tem demonstrado gerar efeitos positivos na qualidade de
sono, e a inatividade física efeitos negativos. Hábitos de sono como:
irregularidades no horário de dormir; dormir tarde; curtos períodos de sono;
grandes diferenças entre os horários de ir para a cama durante a semana e o fim
de semana; e longos cochilos durante o dia têm sido associados com uma má
qualidade de sono.
Buckworth
& Dishman (6), dizem que cerca de 30% da população adulta nos
EUA, e de 20 a 40% da população mundial são acometidos por problemas
relacionados ao sono, deteriorando assim a qualidade de vida, e diminuindo a
produtividade no trabalho, entre outras coisas.
Segundo o American Sleep
Disorders Association (7), o exercício leve e moderado pode ser
considerado uma intervenção não-farmacológica para a melhoria do sono, porém
poucos profissionais da área de saúde têm recomendado e prescrito o exercício
físico com este intuito, talvez por não conhecer a importância da prática de
atividades físicas para a aquisição de um sono de maior qualidade. Vale lembrar
que esta mesma associação concluiu que os exercícios vigorosos podem prejudicar
o sono.
De acordo com Martins (8),
o comportamento do sono pode trazer informações bastante úteis na preparação do
esportista, já que como conseqüências da alteração do padrão de sono podem
ocorrer reduções da eficiência do processamento cognitivo; do tempo de reação e
responsividade atencional; além de déficit de memória; aumento da
irritabilidade; alterações metabólicas, endócrinas e quadros hipertensivos, que
podem comprometer o rendimento físico e a saúde destes indivíduos.
Constatamos
com Weinberg & Gould (9) que a insônia que aflige
aproximadamente um terço da população adulta, está associada com: aumento da
mortalidade; com transtornos psiquiátricos e com a diminuição da produtividade
e do desempenho. Por isso o exercício físico tem recebido maior atenção
ultimamente, por ser considerado um tratamento alternativo na melhora da
qualidade de sono, já que ele causa fadiga física e tem efeitos calmantes
fisiológicos e psicológicos bem estabelecidos, por isso a noção de que o
exercício estimula o sono pode ser lógica.
O exercício físico
pode ser definido como sendo uma subcategoria da atividade física bem
planejada, estruturada e repetitiva, objetivando aumentar ou manter a saúde e a
aptidão física (10). Quando praticada sistematicamente proporciona adaptações
positivas para a saúde, como o aumento da capacidade do sistema
cardiorrespiratório; melhoria da tonicidade muscular; controle da pressão
arterial, do colesterol e do peso corporal; aumento da secreção de hormônios
anabólicos, e outros; afirma Sharkey (11). Encontra-se relacionada na maioria
dos programas que visam promover a saúde (10), porém, pouco tem sido indicada
no tratamento de distúrbios relacionados ao sono (12).
Para Monti (13) o exercício
físico no tratamento da insônia só deve ser indicado para ser versado durante a
manhã ou nas primeiras horas da tarde. Em outra referência pesquisadores
orientam a não praticar exercícios físicos próximo ao horário de dormir,
devendo ter um intervalo mínimo de 3 horas entre o término da atividade física
e o horário de deitar (14). Em conclusão de estudo, Silva & Lima (15)
concordam com os benefícios do exercício físico para esse distúrbio,
observando, contudo, o tipo (preferencialmente aeróbios), a duração (± 30
minutos), a freqüência (pelo menos 3 vezes semanais) .
A atividade física e o sono
do idoso
A atividade física é
definida como um conjunto de ações que um indivíduo ou grupo de pessoas pratica
envolvendo gasto de energia e alterações do organismo (16). Esta atividade
realizada de forma planejada, estruturada, repetitiva e intencional é uma
maneira eficiente de garantir a sobrevivência dos indivíduos (17).
A atividade física está
associada com uma saúde mental positiva e proporciona ao indivíduo uma vida com
maior qualidade. Sobrinho (18) complementa afirmando que o exercício físico é
uma forma de sobrecarga para o organismo e quando bem dosada estimula
adaptações de aprimoramento funcional de todos os órgãos envolvidos.
Boscolo et al (19) afirma
que o exercício físico regular contribui para a qualidade de vida,
proporcionando aos praticantes a melhoria das capacidades cardiorrespiratória e
muscular; o controle da massa corporal; a redução da depressão e da ansiedade;
a melhoria das funções cognitivas (memória, atenção e raciocínio); e a melhoria
da qualidade e da eficiência do sono. Portanto, conclui-se que, se os idosos
praticarem alguma atividade física, possivelmente terão uma melhora na
qualidade do seu sono.
Taveira e Ceolin (20)
buscaram avaliar a qualidade subjetiva do sono de idosos (idade média de 70,4
±6,5 anos), com cardiopatia isquêmica (CI) e os fatores que influenciam o sono,
segundo seu ponto de vista. De acordo com os sujeitos avaliados, os fatores que
contribuem para sono de boa qualidade são: saúde, tranqüilidade, silêncio e
pouca claridade.
A concepção de que a
atividade física regular e sistematizada costuma ser indicada como influência
positiva sobre a qualidade do sono, ocorre devido à proposição de que o sono
teria um papel de compensar as energias perdidas durante a vigília e, portanto,
maiores níveis de atividade durante a vigília resultariam em aumento da
profundidade e duração do sono (21).
Podemos observar que “a
investigação e o tratamento das perturbações do sono do idoso exigem uma
abordagem ampla e completa, uma vez que a fronteira entre a normalidade e o
distúrbio ainda se mostra tênue, a despeito dos avanços obtidos. O sono, assim
como o envelhecimento, apresenta múltiplas facetas a serem estudadas” (22).
Distúrbios do sono
Embora a atividade física
seja essencial, não resolve necessariamente todo tipo de distúrbio do sono. “A
prática esportiva pode ajudar a dormir melhor, mas funciona como um auxiliar,
um coadjuvante, não atua diretamente em problemas nos casos crônicos de
insônia”, afirma a médica do Einstein.
O exercício físico beneficia
mais a quem dorme “picado”. As atividades físicas aumentam a quantidade de sono
profundo e diminuem o número de despertares e de vigília durante a noite. Outro
distúrbio que pode melhorar com a ajuda dos exercícios é a apneia - uma parada
repetida e temporária da respiração durante o sono. O problema é normalmente
associado ao ronco.
O efeito do exercício físico
nesses casos será indireto, uma vez que quem sofre de apneia, em geral, também
é obeso e a atividade física ajudará a controlar o peso e, consequentemente,
esse distúrbio poderá diminuir (23).
Conclusão:
O sono é uma condição
fisiológica necessária para a nossa sobrevivência; mas nem todos têm o
privilégio de dormir com a qualidade ou quantidade da qual carecem. Diversos
fatores contribuem com a privação do sono concedendo distúrbios como a insônia.
O
sono é indispensável para a vida do ser humano, já que é através dele que se
consegue recuperar todo o gasto energético das atividades do dia. Mesmo sabendo
que várias pessoas possuem problemas relacionados ao sono, os estudos apontam
para a necessidade fisiológica dele.
O
organismo humano consegue aproveitar melhor os benefícios advindos de um
programa de exercícios físicos regulares através do sono, que é o momento onde
as adaptações fisiológicas são fixadas.
REFERÊNCIAS:
1-
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disorders in. Gac Sanit.
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sono, cronotipo e adaptação ao fuso horário dos atletas brasileiros participantes
da Paraolimpíada em Sidney - 2000. Rev Bras Med Esp. 2002; 8 (3);
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3-
Heinzelmann F, Bagley R. Response to
physical activity programs and their effects on health behavior. Public Health Report; 1970. 85: 905-11;
4-
Vuori I, Urponen H, Hasan J, Partinen M.
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5-
Tynjala J, Kannas L, Levalahti E, Valimaa
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its precursors in adolescents. Health Promotion International, Oxford University Press, 1999. 14,
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6-
Buckworth J, Dishman RK. Exercise psychology. Champaign: Human Kinetics,
2002;
7-
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8-
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9-
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da psicologia do esporte e do exercício. Ed. Artmed, 2º ed. 2001. Porto
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10-
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11-
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12-
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16-
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17-
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18-
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19-
BOSCOLO, R.A.; SACCO ,I.C.; ANTUNES, H.K.; MELLO, M.T.; Tufik,S.
Avaliação do padrão de sono,e funções cognitivas em adolescentes. Rev Port Cien Desp 7(1) 18–25,2007.
20-
TAVEIRA, Y.D.A. CEOLIM, M.F. Qualidade
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21-
BARBOSA, G.O.; REBELATTO, J.R.; SANTANA, M.G. Influência de um programa regular
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de Iniciação Científica. Anais de Eventos da UFSCar, v. 4, p. 611, 2008.
22-
NETO, P. Tratado
de Gerontologia. 2 ed. rev. e ampl. São Paulo: Editora Atheneu, 2007.
23- Exercício físico: aliado das boas noites de sono http://www.einstein.br/einstein-saude/atividadefisica/Paginas/exercicio-fisico-aliado-das-boas-noites-de-sono.aspx
23- Exercício físico: aliado das boas noites de sono http://www.einstein.br/einstein-saude/atividadefisica/Paginas/exercicio-fisico-aliado-das-boas-noites-de-sono.aspx