“Exercício Físico, Humor e Bem-Estar”
A prática regular de
exercício físico tem sido reconhecida como uma alternativa não medicamentosa ao
tratamento e a prevenção de doenças crônico-degenerativas, promovendo a saúde e
a sensação de bem-estar com benefícios evidentes tanto na esfera física quanto
cognitiva (1).
A maioria das
pessoas experimenta sensação de bem-estar após o envolvimento em exercício
físico (2). Dentre os diversos fatores envolvidos nesse sentimento de
bem-estar, pode-se citar a comprovada existência de uma relação positiva entre
medidas afetivas e exercício físico (3). Assim sendo, o envolvimento de
indivíduos com exercício físico, está associado a maiores níveis de satisfação
com a vida e felicidade (4).
Na associação do
exercício físico a benefícios promovidos na esfera física e cognitiva, o estado
de humor, que pode ser entendido como um conjunto de sentimentos subjetivos e
visto como uma representação da saúde psicológica do indivíduo (5), interagindo
com o bem-estar, apresentando alterações frente a diferentes formas de
prescrição do exercício físico (6).
O humor negativo é
considerado um fator de risco para diversas doenças sendo o humor positivo,
dentro do intervalo normal, um importante preditor da saúde e da longevidade (7),
demostrando que o estado de humor e a sensação de bem-estar são importantes
aspectos a serem explorados na literatura em relação ao exercício físico
intenso como opção para indivíduos jovens.
Apesar
da relação positiva entre exercício e saúde psicológica, grande parte da
população não usufrui esses benefícios, já que apenas uma pequena parcela se
exercita suficientemente e a outra grande parte é completamente sedentária (8).
No Brasil, uma recente publicação revelou que somente
13% dos adultos realizam 30 minutos de atividade física em um ou mais dias na
semana, reduzindo para 3,3% quando perguntados se realizavam atividade física
pelo menos 30 minutos, 5 ou mais dias por semana (9). Estima-se que o estudo
dos mecanismos envolvidos na regulação e na melhoria do estado psicológico pelo
exercício pode auxiliar no desenvolvimento de estratégias de adesão aos
programas de atividade física, sendo de grande relevância para as ciências do
esporte e para a saúde pública. Uma das explicações mais utilizadas e testadas
para explicar os benefícios psicológicos do exercício tem sido a hipótese das
endorfinas, segundo a qual a elevação do nível de endorfina estaria associada
às mudanças psicológicas positivas induzidas pelo exercício, como a diminuição
da ansiedade, da depressão, o aumento do vigor e do bem-estar (10).
As endorfinas
Peptídeos opióides endógenos são substâncias envolvidas
na regulação de vários processos fisiológicos do sistema nervoso central,
atuando como neuro-hormônios e neurotransmissores, sendo classificados em três
grandes grupos: encefalinas, dinorfinas e endorfinas. Os primeiros estudos que verificaram
as alterações dessas substâncias utilizaram modelos animais, os quais são os únicos
que suportam a hipótese de que o exercício altera os níveis desses peptídeos no
sistema nervoso central (11). Dentre os opióides endógenos, a bendorfina é a substância
mais investigada. Na década de 80, cresceram os estudos sobre sua liberação
pelo exercício em humanos (12). A bendorfina e seu imediato precursor,
blipotropina, são originados a partir da molécula pró-opiomelanocortina (POMC),
sendo liberados pela hipófise anterior, juntamente com o hormônio adrenocorticotrópico
(ACTH). Estudos mostram que a b-endorfina e o ACTH são liberados em quantidades
similares após o exercício (13). As endorfinas possuem efeitos analgésicos,
eufóricos e aditivos, tendo implicações em diferentes sistemas e fenômenos do
organismo (12).
Devido às suas propriedades, muitos dos efeitos
positivos do exercício sobre a saúde mental têm sido atribuídos a uma indução
da produção de opióides endógenos, principalmente de b-endorfina, embora os mecanismos
que medeiam esta ativação sejam pouco conhecidos. Neste sentido, a hipótese das
endorfinas preconiza que o aumento das endorfinas circulantes durante e após o exercício
estaria associado a sentimentos de euforia e uma redução da ansiedade, tensão, raiva
e confusão mental(10). Sabe-se que o aumento das endorfinas circulantes se dá
pela ativação do eixo hipotalâmico-pituitário-adrenocortical, podendo ultrapassar
até cinco vezes os valores basais, sendo esta resposta variável em função da
intensidade e duração do exercício(12). Os estudos reportam aumentos
significativos de endorfina plasmática somente em condições anaeróbias ou acima
do limiar anaeróbio(14). Por outro lado, esforços submáximos com duração
superior a 60 minutos também produzem aumentos de endorfina(12). Resumidamente,
a literatura analisada indica que exercícios de alta intensidade (acima de 70%
VO2máx) e/ou aqueles de longa duração otimizam a liberação de endorfinas,
apontando indicações para a prescrição de exercícios físicos com o objetivo de
promover melhorias psicológicas.
Conclusão
A despeito da explicação para a melhoria do humor
induzida pelo exercício, torna-se relevante salientar que, independente das hipóteses,
as atividades físicas têm demonstrado, tanto cientificamente como na subjetividade
de seus praticantes, ser um método eficaz e importante na aquisição de benefícios
psicológicos e fisiológicos, proporcionando melhores condições de saúde e
qualidade de vida. Por isso, aliado ao estudo teórico das alterações
psicológicas do exercício, devem ser desenvolvidas estratégias para que todas
as pessoas possam desfrutar dos seus benefícios (15).
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