Introdução
No Brasil, a síndrome
de origem ocupacional, composta de afecções que atingem os membros superiores,
região escapular e pescoço, foi reconhecida pelo Ministério da Previdência
Social como Lesões por Esforços Repetitivos (LER), por meio da Norma Técnica de
Avaliação de Incapacidade (1). Em 1997, com a revisão dessa norma, foi
introduzida a expressão Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho
(DORT).
L.E.R e D.O.R.T
LER (Lesões por Esforços Repetitivos),
DORT (Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho) são consideradas
síndromes de dimensões sociais e econômicas que refletem diretamente na
capacidade funcional do trabalhador dificultando a forma de exercer suas
atividades e funções causando um grande sofrimento decorrente desse mal,
gerando custos significativos para as organizações e o Estado. Nos últimos 20
anos têm aumentado progressivamente o número de pessoas afetadas pelas LER/DORT
(2).
As LER/DORT no Brasil representa o
principal grupo de agravos à saúde entre as doenças ocupacionais. Trata-se de
afecções com dimensões epidêmicas em diversas categorias profissionais
crescente em vários países do mundo. Suas características são representadas sob
diferentes formas clínicas causando questionamentos sobre os limites do papel
do médico e de outros profissionais dentro da equipe de assistência,
dificultando o manejo por parte de equipes de saúde e de instituições
previdenciárias (3).
O termo Lesões por Esforços Repetitivos
(LER), adotado no Brasil, está sendo, aos poucos, substituído por Distúrbios
Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT). Essa denominação destaca o
termo distúrbio ao invés de lesões, o que corresponde ao que se percebe na
prática: ocorrem distúrbios em uma primeira fase precoce, tais como fadiga,
peso nos membros e dor, aparecendo, em uma fase mais adiantada, as lesões (2).
Estágios evolutivos da
LER/DORT
Para Oliveira (4) a LER/DORT pode ser
classificada em quatro graus:
·
GRAU I: Sensação de
peso e desconforto no membro afetado. Dor espontânea no local, às vezes com
pontadas ocasionais durante a jornada de trabalho, que não interferem na
produtividade. Essa dor é leve e melhora com o repouso. Não há sinais
clínicos.
·
GRAU II: Dor mais persistente e mais intensa.
Aparece durante a jornada de trabalho de forma contínua. É tolerável e permite
o desempenho de atividade, mas afeta o rendimento nos períodos de maior
esforço.
·
GRAU III: A dor torna-se mais persistente, mais
forte e tem irradiação mais definida. Aparecem mais vezes fora da jornada,
especialmente à noite. Perde-se um pouco a força muscular.
·
GRAU IV: Dor forte, contínua, por vezes
insuportável, levando ao intenso sofrimento. A dor se acentua com os
movimentos, estendendo-se a todo o membro afetado.
Agentes Causadores
da DORT/LER
Segundo o PUBLIC HEALTH INSTITUTE (5), as causas da
DORT/LER seriam originadas por movimentos repetitivos e contínuos. Ele fala
também que o esforço excessivo, má postura, estresse e más condições de
trabalho contribuem para o aparecimento das DORT/LER. Para o autor em casos
mais extremados pode ainda causar sérios danos aos tendões, dores na região
afetada e consequente perda de movimentos.
Strazenwski (6)
concorda com o autor acima citado e acresce afirmando que as principais causas
da DORT/LER seriam:
. Ambiente de trabalho desconfortável;
. Atividades que exigem força excessiva com as mãos;
. Posturas incorretas;
. Repetições de movimentos;
. Atividades esportivas que exigem grande esforço dos
membros superiores;
. Ritmo intenso de trabalho;
. Jornada de trabalho prolongada ou dupla jornada.
Seguindo o autor, todos estes fatores seriam responsáveis
por desencadear um processo evolutivo da doença até chegar ao ponto, onde o
indivíduo não suportaria mais as dores, tendo que se afastar do serviço.
·
BURSITE – Seria a
inflamação das bursas (pequenas bolsas de paredes muito finas encontradas entre
os ossos e os tendões das articulações dos ombros);
·
CISTOS SINOVIAIS – São
tumefações esféricas, únicas, macias, indolores e flutuantes que ocorrem devido
ao alto grau de degeneração mixóide do tecido sinovial periarticular ou
peritendíneo. São encontrados com maior frequência na face extensora do carpo.
Seu aparecimento é ocasionado por trabalhos manuais que exijam muita força.
·
DEDO EM GATILHO ou
também conhecido como (Tenossinovite Estenosante) – Ela é causadora da
impossibilidade de se estender o dedo devido estreitamento da passagem dos
tendões flexores aumentando o atrito destes, provocando inflamação local.
·
DISTROFIAS SIMPÁTICOS
– REFLEXAS: São dores intermitentes provocando atrofia muscular da região.
Promovem a restrição articular, porosidade óssea e impotência de funcionamento do
sistema muscular, quando não tratada a tempo.
·
DOR ÁLGICA MIOFACIAL –
Esta é caracterizada pela contração prolongada dolorosa dos músculos, pela
prática de atividade extenuante ou stress emocional.
·
EPICONDILITE – É
encontrada no cotovelo provocando a inflamação das estruturas do mesmo. É
caracterizada por ruptura ou estiramento das membranas interósseas, ocasionando
uma inflamação capaz de atingir tendões e músculos. Acontece ao nível dos
epicôndilos laterais, também conhecidas como “tennis elbow”, que significa
cotovelo de tênis, comum em fisiculturistas que carregam muito peso, e até
mesmo em trabalhadores artesanais ou donas de casa.
·
SÍNDROME
CÉRVICO-BRAQUIAL – É a compressão do nervo braquial ou tensão muscular da
coluna cervical.
·
SÍNDROME DO DESFILADEIRO
TORÁCICO – Neste caso seria a compressão do feixe do vásculo-nervoso num
estreito triângulo formado pelos músculos escaleno anterior e médio juntamente
com a primeira costela. Ocorre em trabalhadores que mantêm os braços elevados
por períodos prolongados ou que comprimem o ombro contra algum objeto. Podemos
citar como exemplo, o uso prolongado e diário de telefone apoiado entre a
orelha e o ombro.
·
SÍNDROME DO PRONADOR
REDONDO – É a compressão do nervo mediano, abaixo da junção do cotovelo, entre
os dois ramos do músculo pronador redondo ou dos tecidos que revestem o bíceps
ou na arcada dos flexores dos dedos.
·
TENDINITE – Seria a
inflamação aguda ou crônica dos tendões. Encontrada com maior freqüência nos
músculos flexores dos dedos pela movimentação freqüente e período de repouso
insuficiente da musculatura envolvida. Manifesta-se, através da dor na região
que é agravada por movimentos voluntários, apresentando edema e crepitação na
região, sendo ele de dois tipos: Tendinite Bicipital e Tendinite do Supra-Espinhoso.
·
TENDINITE BICIPITAL –
É a inflamação do tendão do bíceps, provocada por atividades repetitivas,
exercícios musculares intensos ou de trauma dos ombros.
·
TENDINITE DO SUPRA
ESPINHOSO – É a inflamação do tendão do músculo supra espinhoso em torno da
articulação do ombro pela atividade repetida do braço.
·
TENOSSINOVITE – Esta
seria a inflamação aguda ou crônica das bainhas dos tendões. Assim como a
tendinite os dois principais fatores causadores da lesão são: movimentação frequente
e período de repouso insuficiente.
·
SÍNDROME DE QUERVAIN –
É o fechamento doloroso da bainha comum dos tendões do longo abdutor do polegar
e do extensor curto do polegar. Estes tendões correm dentro da mesma bainha;
quando friccionados, costumam inflamar-se. O principal sintoma é a dor muito
forte, no dorso do polegar.
·
SÍNDROME DO TÚNEL DO
CARPO (STC) – Seria a compressão do nervo mediano no túnel do carpo. As causas
mais comuns deste tipo de lesão são a exigência de flexão do punho, a extensão
do punho e a tenossinovite ao nível do tendão dos flexores.
·
SÍNDROME DO CANAL DE
GUYON – É a compressão do nervo ulnar ao nível do chamado canal de Guyon no
punho, causando distúrbio de sensibilidade no quarto e quinto dedos e
ocasionando distúrbios motores na face palmar.
O Papel
da Atividade Física:
Adams et al (8), diz que a identificação, o tratamento e a
prevenção dos riscos a que são submetidos os trabalhadores, dentro e fora do
trabalho, devem fazer parte, como principal fator, de um programa de prevenção
das lesões por esforços repetitivos. O (9), estabelece que é de competência do
empregador a realização da análise ergonômica do trabalho para avaliar a
adaptação das condições laborais às características psicofisiológicas do
trabalhador.
As pesquisas já demonstram que existem ganhos
significativos para a saúde quando uma pessoa adere a um programa de exercícios
físicos. Mostram também que essa é a melhor forma de prevenção a patologias
crônicas e agudas, pois estimula de uma forma positiva o sistema osteomuscular,
cardiorrespiratório, e ainda traz benefícios psíquicos. A prática de atividade
física regular está associada à redução do risco de desenvolvimento de diversas
doenças crônicas, muitas das quais causas principais de morte prematura e
dependência funcional em vários países do mundo, inclusive o Brasil (10).
As definições da Ginástica Laboral:
A ginástica laboral pode ser entendida, de
acordo com o que diz Lima (11), como um conjunto de práticas físicas,
elaborados de acordo com o tipo de trabalho realizado na empresa, com o
objetivo de compensar as estruturas mais utilizadas no trabalho e ativar as que
não são requeridas, relaxando-as.
Dessa forma, de
acordo com Duarte (12) se pode considerar a ginástica laboral como um meio de
prevenção para as doenças ocupacionais como LER/ DORT, estresse e depressões
assim como forma de sociabilizar os funcionários para que, os mesmos tenham uma
convivência prazerosa, uma autoestima elevada e um autoconhecimento maior.
Para Oliveira (4) a ginástica laboral tem
como finalidade fundamental a prevenção e diminuição dos casos de DORT. De
acordo com Duarte (12) a ginástica laboral também pode ser implantada como uma
intervenção ergonômica, já que a mesma proporciona benefícios para a saúde dos
funcionários que a praticam.
A ginástica
laboral por ser um programa de curta duração e de baixa intensidade não leva o
trabalhador ao cansaço e não provoca sudorese, pois a mesma respeita o tipo de
vestimenta que os funcionários utilizam para executar seu trabalho, assim como
suas individualidades e restrições.
Segundo Martins
(13), a ginástica laboral apenas classifica-se em preparatória (antes da
jornada de trabalho) e compensatória (durante/após o trabalho). De acordo com
ele a ginástica laboral preparatória é mais indicada para os trabalhadores com
tarefas que se utilizam de força em seus movimentos, para que ocorra
aquecimento músculo articular e posteriormente, aumento da circulação sanguínea
periférica. Por sua vez, a ginástica laboral compensatória deve conter
alongamento estático a fim de ativar os grupos musculares mais utilizados
durante o dia-a-dia laboral. As ginásticas realizadas nos finais do expediente
também podem ser chamadas de ginástica de relaxamento.
Considerações finais:
É possível
concluir que a prevenção da DORT/LER se torna muito importante na medida em que
o trabalhador, independente da atividade exercida esteja sempre sujeito a
doenças independendo de sua atividade.
A prevenção sem
dúvidas vem se tornando a melhor e mais barata alternativa do setor empresarial
para minimizar ou até mesmo evitar a doença, fazendo com que estes empresários
melhorem o ambiente laborativo através de medidas de segurança, ergonômicas e
principalmente melhorando a qualidade de vida no trabalho.
Desta forma com a
inclusão de medidas de conscientização, os gastos com indenizações por
invalidez, afastamento do trabalho, ou substituições de funcionários tendem a
diminuir muito, além é claro de auxiliar na diminuição do absenteísmo e dos
acidentes laborais, o que poderia levar a um aumento gradual da produtividade
nas empresas.
Quanto a
prevenção seria não só incluir um programa de atividades físicas para os
funcionários, mas sim tentar evitar a doença de todas as formas, e que para
isso seria imprescindível que fosse realizada uma análise ergonômica dos postos
de trabalho, seguida da adequação destes locais de trabalho em função de cada
pessoa.
É praticamente uma unanimidade entre os
autores que a diminuição dos índices de doenças ocupacionais possui relação
direta com o condicionamento físico do funcionário, onde se melhorado,
acontecerá à inexistência ou a diminuição do aparecimento de doenças
decorrentes do labor (14).
Pode-se concluir a relevância da Ginástica Laboral (GL) no
ambiente de trabalho, por prevenir alguns distúrbios osteomusculares como a
LER/DORT, além de ser uma proposta interessante, que vem produzindo efeitos
positivos no combate ao sedentarismo e suas consequências, conscientizando os
trabalhadores sobre a importância da movimentação natural do corpo, conservação
da postura e sua saúde, tão fundamentais para o desempenho profissional e a
harmonização no ambiente de trabalho bem como um fator satisfatório para a
maioria das empresas que através da G.L. investe na melhoria da imagem da
instituição junto aos empregados e a sociedade, contribuindo para a manutenção
do bem estar físico mental e social de seus colaboradores gerando assim um
aumento de produtividade (15).
Referências
Bibliográficas:
1-
L.E.R. Lesões por Esforços Repetitivos.
Normas técnicas para avaliação da incapacidade. Brasília: INSS/CGSP; 1991.
2-
RAGASSON, C. A. P.; LAZAROTTO, E. L.;
RUEDELL, A. M. / RUEDELL, A. Estudo das condições de trabalho. In: 2 Seminário
Nacional Estado e Políticas Sociais no Brasil, 2005, Cascavel
3-
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Protocolo de
investigação, diagnóstico, tratamento e prevenção de LER/DORT. Secretária de
Políticas de Saúde. Brasília, 2000.
4-
OLIVEIRA, J. R. G. A Prática da
Ginástica Laboral. 3. ed. Rio de Janeiro: Editora Sprint, v. 01. 133, 2006.
5-
PUBLIC HEALTH INSTITUTE - CALIFORNIA DEPARTMENT
OF HEALTH SERVICES. The
California 5 a Day Campaign.
6-
STRAZENWSKI, L. Wellness programs. Rough Notes,
Indianapolis v.146, n.3; p.134- 135, Mar. 2003.
7-
SHAIN,
M; KRAMER, D. M. Health promotion in the workplace: framing the concept;
reviewing the evidence. Occupational Environmental Medicine [S.l.], 61, p.643-648,
2004.
8-
ADAMS
et al., Princípios of Neurology, 6th Ed, p. 1360; Pain 1995 oct; 63 (1):
127-33).
9-
UNITED
STATES DEPARTMENT OF HEALTH AND HUMAN SERVICES. The power of prevention:
reducing the health and economic burden of chronic disease. Atlanta (GA/USA):
Centers for Disease Control and Prevention, 2003. 12 p.
10-
Barros, M. V. G. e Santos, S. G. - A
atividade física como fator de qualidade de vida e saúde do trabalhador -
núcleo de pesquisa em atividade física e saúde - CDS/UFSC.
11-
LIMA, Valquiria de. Ginástica Laboral:
atividade física no ambiente de trabalho. 2ed. São Paulo: Phorte, 2005.
12-
DUARTE, M. de F. Efeitos da ginástica
laboral em servidores da Reitoria da UFSC. In: Revista Brasileira de Ciência e
Movimento, Brasília, v.8,n.4, p.07-13, set. 2000.
13-
MARTINS,
Caroline de Oliveira. Repercussão de um programa de ginástica laboral na
qualidade de vida de trabalhadores de escritório. 2005. 184f. p. 21-82. Tese
(Doutorado em Engenharia de Produção) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia
de Produção, Centro Tecnológico, Universidade Federal de Santa Catarina.
Florianópolis, 2005.
14-
Araújo et al. DORT/LER: um olhar
conscientizador e prevencionista. http://www.efdeportes.com/
Revista Digital - Buenos Aires - Año 14 - Nº 138 - Noviembre de 2009
15-
Azevedo, P. G. de. e Granado, S. O. A
importância da ginástica laboral na prevenção de LER/DORT. EFDeportes.com,
Revista Digital. Buenos Aires, Año 15, Nº 148, Septiembre de 2010. http://www.efdeportes.com/.
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