A atividade física é um
fator importante na prevenção primária e secundária, bem como no tratamento das
várias doenças cardiovasculares (1). A inatividade física tem sido considerada
um fator de risco importante das doenças cardiovasculares (2). Estudos têm
demonstrado que pacientes com doenças cardíacas, que participam de programas de
treinamento físico regular, e que recebem orientação sobre controle dos fatores
de risco para doenças cardiovasculares, apresentam menor número de eventos pós-operatórios
e de reinternações hospitalares, além de redução da mortalidade (3,4).
Na década de 40, surgiram
os primeiros questionamentos sobre a conduta então preconizada do repouso
prolongado no leito no manejo de pacientes portadores de doenças cardiovasculares.
Juntamente com os resultados obtidos das pesquisas sobre os benefícios da
atividade física para o sistema cardiovascular, houve uma mudança em relação à atividade
física no tratamento dos pacientes cardiopatas (5).
Kellerman criou, em 1962,
em Washington, o primeiro programa de exercícios físicos direcionados a
pacientes infartados e de cirurgia valvar, com duração de 16 semanas, foi um
marco inicial para criação de programas de reabilitação cardíaca (5).
Em 1986, Shephard realizou
uma revisão abrangente destes estudos observacionais envolvendo atividade
física e doenças cardiovasculares. Grande parte deles revelou uma menor taxa de
DAC e mortalidade por todas as causas, específica para idade nos grupos mais
ativos. Na maioria dos casos, registrou-se um risco duas a três vezes maior associado
a um estilo de vida sedentário. Esses dados foram atualizados pela revisão de
Powell et al., em 1987, apoiando a inferência de que a atividade física é
inversa e casualmente relacionada à incidência de doença coronariana (1).
Ultimamente, a
atividade física tem sido incorporada como uma conduta terapêutica no
tratamento do paciente portador de cardiopatia, associado ao tratamento
medicamentoso e às modificações de hábitos alimentares e comportamentais (4,6).
Em recente meta-análise, foi confirmado o efeito benéfico da reabilitação cardíaca
independente do diagnóstico da doença arterial coronariana, do tipo de
reabilitação e da dose de intervenção do exercício. Foi ainda evidenciado que programas
baseados no treinamento físico reduzem a mortalidade cardíaca e por todas as
causas, apesar de não ter sido completamente elucidado o mecanismo preciso pelo
qual a terapia com exercício melhora o índice de morbidade e mortalidade em
pacientes com doenças cardiovasculares (3,4,6).
Inatividade física e consequências
na saúde
O corpo humano é planejado para movimentos
e atividades, inclusive de nível extenuante, todavia a atividade física de
intensidade leve e moderada faça parte do estilo de vida padrão. Não se pode
esperar que o organismo humano tenha funcionamento ótimo e permaneça saudável
por longos períodos se ele não for adequadamente utilizado. Assim, a
inatividade física levou ao incremento - ao longo dos anos – de doenças
crônicas, visto que pessoas sedentárias apresentam maior chance de desenvolver
enfermidades crônicas como cardiopatia coronariana, hipercolesterolemia,
câncer, obesidade, distúrbios musculoesqueléticos (7). De acordo com a AMERICAN HEART ASSOCIATION apud ESPEJO;
GARCÍA (8), a inatividade física é tida como o maior fator de risco de
desenvolver problemas coronarianos cuja causa mais comum de lesão é denominada
de aterosclerose coronária obstrutiva. Conforme ROBERGS E ROBERTS (9) é
imputada a inatividade física como uma grande contribuição na formação do
processo aterosclerótico.
Atividade física e
exercício físico na profilaxia de DCV
A medicina preventiva e
a área da saúde pública têm focado sua atenção para os fatores de risco modificáveis
capazes de favorecer o desenvolvimento de doença arterial coronariana. Dentre
eles pode-se elencar a hipertensão, hipercolesterolemia, tabagismo, obesidade e
sedentarismo (10). Quando o indivíduo torna-se fisicamente ativo, boa parte desses
eventuais problemas de saúde podem ser atenuados, para melhorar a fisiologia
humana é necessário movimento diário do corpo, ou seja, ativá-lo por meio da
atividade física.
A atividade física é definida como qualquer
movimento corporal produzido pelos músculos esqueléticos que resulta em gasto
de energia. O exercício físico é conceituado como sendo um subconjunto da
atividade física de modo planejado, estruturado e repetitivo cujo efeito é de
manter ou melhorar um ou mais componentes da aptidão física (capacidade de
realizar atividade física) PATE et al. (11). Desde a década de 1960, estudos
têm demonstrado associação inversa da atividade física e aptidão
cardiorrespiratória com a ocorrência das enfermidades cardíacas (10). Segundo
BERLIN; COLDITZ apud FUNCH, MOREIRA; RIBEIRO (12), a atividade física regular
está associada com inúmeros benefícios à saúde, incluindo a redução da
incidência de doenças cardiovasculares, como as oriundas de aterosclerose
coronariana e cerebrovascular.
Segundo HEYWARD (13), a prática de
atividade física regular constitui a melhor intervenção contra o
desenvolvimento de várias doenças, distúrbios e indisposições, isto é, tem
efeitos na prevenção de doenças, mortes prematuras e manutenção de uma melhor
qualidade de vida. Consoante PATE et al. (11), a atividade física reduz o risco
de desenvolver doenças coronárias por uma série de respostas fisiológicas e
metabólicas, a saber: aumento do colesterol de lipoproteína de baixa densidade,
redução do triglicérides séricos, atenuação da pressão arterial, redução do
risco de trombose aguda, aumento da sensibilidade à insulina e redução da
sensibilidade do miocárdio aos efeitos das catecolaminas, reduzindo desta forma
o risco de arritmias ventriculares.
Então, a atividade física ou o exercício
físico apazigua as chances de ocorrência de uma série de problemas de saúde,
inclusive o risco de ter um ataque cardíaco. Para FOSS; KETEYIAN (14), as
possíveis respostas biológicas pelas quais a atividade física promove atenuação
das taxas de mortalidades cardiovasculares incluem as seguintes: maior
estabilidade elétrica do miocárdio (menores concentrações de catecolaminas em
repouso e durante o exercício, maior limiar de fibrilação ventricular); menor
trabalho do miocárdio e demanda do oxigênio (menor frequência cardíaca e
pressão arterial em repouso e durante o exercício); melhor função do miocárdio
(maior contratilidade miocárdica); suprimento de oxigênio ao músculo cardíaco
mantido (progressão retardada da aterosclerose em virtude da menor adiposidade
e dos maiores níveis de colesterol lipoprotéico de alta densidade).
Prescrição e benefícios
da atividade física e exercício físico na profilaxia das DCV
As doenças cardiovasculares são as maiores
causas de morte da população em escala mundial. Preveni-las se torna uma
preocupação emergencial no âmbito do setor de saúde. Adotar medidas preventivas
– por meio de um estilo de vida saudável – como: controle da pressão arterial,
da massa corporal, do estresse excessivo e da prática habitual de atividade
física, certamente melhora padrão de saúde e previne contra doenças. Os
cientistas do exercício e profissionais de saúde afirmam que a atividade física
regular constitui a melhor defesa contra o desenvolvimento de inúmeras
enfermidades, distúrbios e indisposições. Desta feita, a atividade física é
importante na profilaxia de doenças e óbitos prematuros (7).
A prática regular de atividade física é
considerada um relevante componente de um estilo de vida saudável, que promove
um funcionamento mais eficiente dos sistemas orgânicos, especialmente no cardiorrespiratório.
Essa prática é capaz de minimizar os riscos de desenvolvimento das doenças
cardiovasculares (10). A atividade física – salutar para a saúde – proporciona
inúmeros benefícios à saúde das pessoas. Estudos realizados por meio de
investigações epidemiológicas demonstram efeitos protetores gerados pela
prática de atividade física habitual, incluindo as doenças cardiovasculares,
hipertensão arterial, diabetes insulino não dependente, osteoporose, câncer de
cólon, ansiedade e depressão (11).
Os pesquisadores sugerem que os exercícios
físicos devam ser realizados três ou mais vezes por semana com duração de cerca
de 30 minutos diários, de modo intermitente ou contínuo cuja intensidade gire
em torno de 3 a 6 equivalentes metabólicos (METS). A intensidade é estabelecida
entre 60% a 90% da frequência cardíaca máxima ou 50% a 85% do consumo máximo de
oxigênio. Atividades essas suficientes para consumir aproximadamente 200 quilocalorias
diárias.
O exercício físico é aceito como agente
preventivo e terapêutico de diversas moléstias, inclusive diante das
cardiovasculares (15). Este age na profilaxia e no tratamento de doenças
cardiovasculares e crônicas, imputando-se aspectos de ordem benéfica e protetora
(16). Consoante POLLOCK et al. (1), tanto os exercícios de resistência aeróbia
quanto os exercícios resistidos podem promover benefícios significativos nas
aptidões físicas relacionados à saúde (resistência aeróbia, força e resistência
muscular), favorecendo melhorias na função cardiovascular, metabólica, fatores
de risco coronarianos e psicossociais.
Considerações finais
Atividades
físicas e exercícios são considerados medida não medicamentosa capaz de evitar
problemas mais severos de saúde, pois atua no organismo como fator benéfico e
protetor contra diversas enfermidades, como: hipertensão arterial,
dislipidemias, diabetes millitus,
obesidade e especialmente as doenças cardiovasculares. Enquanto o sedentarismo
pode dobrar o risco de ser acometido por alguma ocorrência cardiovascular grave
- de modo independente -, a atividade física cotidiana realizada ao menos três
vezes semanais e de intensidade moderada pode favorecer melhorias na saúde e na
qualidade de vida da população em geral. Os ganhos advindos desta prática podem
ser obtidos tanto pela realização dos exercícios de resistência cardiorrespiratória
quanto do exercício de força. Ambos devem ser componentes indispensáveis na
elaboração de um programa de condicionamento, que vise melhoria do desempenho e
aptidões físicas relacionadas à saúde (17).
A prática regular de
atividade física tem sido recomendada não apenas para a prevenção e
reabilitação das doenças cardiovasculares, mas como estratégia importante de
promoção de saúde (18). Sendo assim o mais importante é realiza-las sob a supervisão
de uma equipe multidisciplinar qualificada.
Referências:
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JH. Exercícios na saúde e na doença. 2ª ed. Rio de Janeiro:Medsi;1993.
2. Diário Oficial da
União. Portaria nº 1893 de 15/10/2001. Criação do programa de prevenção com
atividade física. Brasília;2001.
3. Charlson ME, Isom
OW. Care after
coronary-artery bypass surgery. N Engl Med. 2003;348(15):1456-63
4. Hedbäck B, Perk J, Hörnblad M, Ohlsson U. Cardiac rehabilitation
after coronary artery bypass surgery: 10-years results on mortality, morbidity and
readmissions to hospital. J Cardiovasc Risk. 2001;8(3):153-8.
5. Silva E, Catai AM.
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8. Espejo, F. R.,
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13. Heyward, V. H.
Avaliação física e prescrição de exercício – técnicas avançadas. 4ª ed. Porto
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Keteyian, S. J. Bases Fisiológicas do Exercício e do Esporte. 6ª ed. Rio de
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